Friday, August 28, 2009

Contrato relacional

As mãos fincavam no cabelo procurando a oleosidade do cucurucu. Era um cucurucu de homem, daqueles que ficam oleosos facilmente – ele deixou de lavar um dia, correu demais noutro ou quem sabe teimou de usar o condicionador de novo. Na base do cucurucu, ela encontrou um óleo quase tão viscoso quanto Sève! Molhou a pele alva naquele liquido e deitou a mão inteira sobre a cabeça do marido para escorregar os dedos até a ponta de todos os fios finos que conseguisse ajuntar.

Aquele cabelo tão branco de gasto que ele cismava dizer que era cor de grisalho e não cor de velhice, de cansaço,de stress! Era um cabelo cor-de-grisalho como são coloridas todas as coisas felizes da vida. Reparou que havia uma pinta nova, talvez uma pinta de câncer, bem embaixo da armação dos óculos – "Bem, você precisa ver essa pinta".

Ele nem aí. A pinta era um charme, ainda que cancerígeno, que completava o cabelo grisalho estampado no cucuruco. O "bem" era tudo de "bom"!

A barriga derramava-se no encosto do sofá, formando um "murundum" que se anexava a lateral corpórea do marido tal qual uma bolsa de colostomia. Ela apertava o excesso de pele maciça delicadamente como apertava os cookies para ver se estavam no ponto,mas aquele homem já veio pronto. Chegou com alguns livros a mais já lidos, uma pós-graduação no exterior e um bem imóvel para dar de garantia,mas ela só lhe pedira as juras do altar mesmo.

"Eu juro,bem". Jurou com os lábios estreitos e firmes e ela acreditou.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Meu Deus! Fabi! Você escreve muito bem. Sério!Parabéns. Só queria entender essa sua tara com velhos... Velhos barrigudos.

10:58 PM  

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